O turismo de vacina – isto é, viajar para o exterior com o objetivo de ser imunizado contra a Covid-19 – pode se tornar uma tendência em 2021. É o que alertam os especialistas, principalmente com o surgimento de países que estão oferecendo doses da vacina aos turistas. No entanto, a medida pode não ser tão simples, tampouco segura. Além de envolver viagens durante o período de pandemia, a vacinação de turistas enfrenta dilemas éticos e outros impasses que precisam ser discutidos.
Confira abaixo quais países estão vacinando turistas contra a Covid-19, quais são as vacinas disponíveis, custos e viabilidade dos pacotes de viagem que incluem a vacina.
Países que aceitam vacinar turistas
Cuba
Cuba foi o primeiro país a oferecer a vacina contra Covid-19 para turistas estrangeiros. Chamada de “Soberana 2”, a vacina tem sua terceira fase de testes prevista para 1º de março. Ela estará disponível não apenas para cidadãos cubanos, mas a todos os turistas que visitarem a ilha e desejarem ser imunizados, segundo informações de Vicente Vérez, diretor do centro de pesquisa médica do Instituto Finlay de Havana, onde são realizadas pesquisas para combater o vírus no país.
Cuba espera ter 100 milhões de doses da vacina ainda em 2021, sendo que a meta é vacinar a população cubana inteira de mais de 11 milhões de pessoas esse ano – e ainda exportar o imunizante a outros países como Vietnã, Irã, Venezuela e Índia.
Rússia
Ao contrário do restante da Europa, na Rússia a vacinação contra a Covid-19 não está restrita apenas ao grupo prioritário. Qualquer pessoa pode receber uma dose gratuita – incluindo estrangeiros. Os interessados precisam apenas apresentar um documento de identificação, como o passaporte.
A vacinação em massa na Rússia com a “Sputnik V” começou em dezembro de 2020, com uma lista de prioridades pequena, que incluía profissionais de saúde e professores. Desde 18 de janeiro, Moscou passou a disponibilizar a vacina gratuitamente para todos que procurarem os postos, sejam cidadãos ou estrangeiros. Apesar disso, o governo russo tem evitado incentivar esse tipo de procedimento até o momento e afirmou não ter a intenção de usar a vacina para incentivar o turismo.
Panamá
Discretamente, o Panamá já deu sinais de que seu programa de vacinação não discrimina turistas. Em entrevista a um jornal panamenho, o diretor metropolitano de saúde, Israel Cedeño, afirmou: “O Panamá nunca fez discriminação em termos de vacinação, o estrangeiro pode estar fazendo turismo, e caso esteja no período indicado, poderá ser vacinado”.
Emirados Árabes Unidos
Nos Emirados Árabes Unidos, a imunização é tratada como uma oportunidade de negócios, embora o governo local não confirme oficialmente a iniciativa. De acordo com uma reportagem recente, o Knightsbridge Circle, um clube da elite de Londres, tem oferecido a seus clientes a possibilidade de viajar até Dubai para receber a vacina produzida pela empresa chinesa Sinopharm. De acordo com um porta-voz do clube, o objetivo é incentivar o turismo no país.
Em nota, o Turismo de Dubai informa que apenas residentes com documento de identidade dos Emirados Árabes Unidos podem tomar a vacina contra a Covid-19 nos postos espalhados pelo país. Apesar disso, há relatos de brasileiros de férias em Dubai que conseguiram se vacinar no emirado.
Estados Unidos
O turismo de vacina já é uma realidade nos Estados Unidos, onde a vacinação é organizada sob a responsabilidade de cada estado. Na Flórida, a vacina é oferecida gratuitamente a pessoas com mais de 65 anos de idade, criando uma oportunidade para americanos ou até mesmo estrangeiros que visitam o destino para serem vacinados – embora existam reclamações da população local e tentativas do governo em coibir a prática. Cerca de 50.000 doses foram injetadas em turistas ou residentes secundários com mais de 65 anos na Flórida.
A Califórnia, o estado mais populoso do país, não exige comprovante de residência para adultos com mais de 65 anos. “A distribuição da vacina é baseada na elegibilidade, independentemente da residência ou status de imigração,” declara o Departamento de Saúde da Califórnia.
Há relatos de turistas do estado de Louisana que vão para o Mississipi em busca de vacinas. Em Aspen, no Colorado, um grupo de 20 brasileiros alugou uma casa para permanecer na cidade até tomar as duas doses. Apesar do descontentamento dos cidadãos locais, as autoridades de Colorado dizem que não é necessário um endereço para tomar a vacina, mas que os condados têm o direito de priorizar os residentes em tempo integral.
Dilemas éticos do turismo de vacina
“Uma dose administrada a um turista é uma dose a menos para a população local”. Para o Dr. Gerald T. Keusch, professor de medicina do Laboratório Nacional de Doenças Infecciosas da Universidade de Boston, “Pode ser difícil para os pacientes de um país avaliar as qualificações dos médicos de outros países. Quando há um medicamento ou vacina envolvida, também deve haver confiança de que o produto é o que deveria ser, tem a potência necessária e é seguro para administrar em humanos”.
Para a Dra. Marissa J. Levine, professora de saúde pública da Universidade do Sul da Flórida, “Estamos em uma situação em que a demanda está ultrapassando a oferta, o que coloca as pessoas em estado de alerta se perceberem que outros estão vindo tomar a vacina delas”.
Além disso, roubo e falsificação da vacina são uma preocupação. O desvio de doses para a comercialização no mercado negro é um cenário que o mundo precisará lidar. Sem as doses que têm direito, a população idosa e mais pobre será a primeira a sofrer.
Países que já se manifestaram contra a vacinação de turistas
Nem todos os países veem com bons olhos a chegada dos “turistas de vacina”. Recentemente, o Chile anunciou que não irá vacinar estrangeiros sem visto de residência no país. A medida foi tomada após uma reportagem da TV peruana, que mostrou a venda de pacotes de viagens para o Chile, que incluíam a promessa da imunização, por cerca de R$ 5.000. A vacinação no Chile é voluntária e gratuita.
Nos Estados Unidos, onde a política de vacinação varia conforme cada estado, o assunto também virou motivo de discussão. Ana Rosenfeld, celebridade da televisão argentina, compartilhou nas redes sociais sua experiência de vacinação na Flórida, onde esteve como turista: “Eles não exigem que você seja residente, eles vacinam gratuitamente qualquer pessoa com mais de 65 anos”, declarou.
Após muitos moradores da Flórida se irritarem por não terem conseguido se vacinar devido à falta de doses, o governo do estado anunciou novas exigências para obter a vacina, como comprovante de residência. No entanto, para o Departamento de Saúde do estado, a Flórida é um estado com muitos residentes temporários, principalmente idosos, e as autoridades afirmam que “não podem limitar” a vacinação de pessoas que não moram lá o ano todo.
“O turismo de vacinas não é permitido. É detestável. As pessoas não deveriam vir aqui para tomar uma vacina e voar para longe”, disse o diretor de emergência da Flórida, Jared Moskowitz. Já o governador da Flórida, Ron DeSantis, disse em entrevista coletiva: “O que não queremos são turistas, os estrangeiros. Queremos colocar os idosos em primeiro lugar, mas obviamente queremos colocar as pessoas que moram aqui em primeiro lugar”.
Viajar ao exterior para se vacinar é a solução?
Viajar para o exterior em busca de imunização contra a Covid-19 é uma decisão estritamente pessoal. Embora o turismo de vacina já seja uma realidade — inclusive com o apoio de governos e pacotes de viagem que incluem vacina —, talvez ainda seja cedo demais para embarcar nessa.
Isso porque, em um futuro próximo, passaportes de imunidade e comprovantes de vacinação poderão ser exigidos dos viajantes. Mas a dúvida é: haverá uma padronização de quais vacinas foram tomadas, número de doses, fabricante e lote? Recentemente o Seychelles foi o primeiro país do mundo a abrir as portas para turistas vacinados, desde que tivessem tomado duas doses de qualquer imunizante aprovado contra a doença. Já a Islândia também passou a permitir a entrada de turistas vacinados, mas só aqueles que tivessem tomado duas doses das vacinas produzidas pela Pfizer-BioNTech ou Moderna.
Para os brasileiros residentes no exterior, não há dúvidas de que participar das campanhas de vacinação em andamento no país onde vivem seja benéfico. No entanto, sair do Brasil para se vacinar no exterior deve ser uma decisão bem planejada. Há questões legais que devem ser observadas, bem como os custos envolvidos e o cuidado com golpes. Nenhum pacote de viagem pode garantir a imunização de um estrangeiro.
Turismo de vacina, vale a pena?
“Não valeria a pena viajar para se vacinar, é preciso aguardar. As vacinas farão parte de programas públicos, abertos para a população de cada país e são calculadas com base nisso. No curto e médio prazo terá vacina faltando, e não sobrando”, disse a Dra. Flávia Bravo, coordenadora médica do CBMEVi (Centro Brasileiro de Medicina do Viajante) e presidente da SBIm – Regional RJ (Sociedade Brasileira de Imunizações), em entrevista ao Portal R7.
Além disso, ainda existem muitas incertezas. “Eu não sei quais vacinas terão [disponibilizadas], qual o tempo de viagem, quanto tempo a pessoa precisa ficar no país para fazer o esquema de duas doses [que deve ser necessário, dependendo do imunizante aprovado]”, cita a especialista.
Ela aconselha a quem estiver disposto a sair do Brasil para se vacinar, a confiar nas vacinas que temos por aqui, pois qualquer uma que receber autorização da Anvisa será segura. Vale lembrar que não é possível tomar mais de uma vacina contra a Covid-19, pois há o risco de eventos adversos graves, já que nenhum imunizante passou por testes para verificar como seria sua interação com os outros.
As regras internacionais de vacinação podem mudar a qualquer momento. Favorite nosso Blog e fique por dentro das últimas notícias.
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Fonte: Melhores Destinos